domingo, 4 de março de 2018

O Processo de inserção das crianças na UMEI Rosalda Paim


A chegada das crianças de dois anos
                                                                 Professora Natalia Ribeiro

Na UMEI Rosalda Paim, faz algum que tempo desistimos de chamar de adaptação o momento tão importante e delicado que é a chegada da criança na escola. Entendemos que adaptação nos remete a ideia de que o indivíduo deve se adaptar, se ajustar para caber em algo, e esse não é nem de longe o nosso objetivo, já que visamos a acolhida como ponto de partida para estabelecermos uma relação. Por acolhida entendemos receber a pessoa como ela é, respeitando a individualidade de cada uma e respeitando também a ideia de que os processos não se dão no mesmo tempo e nem da mesma forma para todas, já que cada indivíduo tem sua essência e sua forma de encarar as novidades e as mudanças, que são tantas nessa fase inicial de chegada a uma escola. Entendemos ainda que a acolhida se faz necessária não só em relação às nossas crianças, mas também em relação às famílias dessas crianças, que tem tanta importância nesse processo que preferimos que seja chamado de inserção escolar.

O processo de inserção começa na família.  De acordo com a pesquisadora Daniela Guimarães, “compreender o valor das famílias e suas peculiaridades na vida das crianças é muito importante”(2011, p. 144). Sendo assim, foi na reunião de pais, realizada antes mesmo das crianças chegarem à escola, que iniciamos o planejamento da inserção dos nossos pequeninos Depois participar da primeira parte da reunião com a Direção da Escola, os pais de alunos do GREI2 permaneceram no espaço com as professoras desses grupos e uma das Pedagogas da UMEI. Assim tivemos a oportunidade de começar a conhecer essas famílias e conversar sobre as particularidades do processo de Inserção Escolar.

 Nossa estratégia foi envolvê-los com afeto e dividir a rotina que seus filhos passariam a vivenciar no espaço da UMEI. Para isso, lemos a história A Gaiola (de Adriana Falcão) Acreditamos que essa troca de informações tenha sido de grande valia, pois deixamos claro que a nossa intenção é apenas somar e ampliar as experiências socioafetivas das crianças. As gaiolas não são necessárias quando existe amor de verdade, bem como não é recomendado soltar tão rápido o passarinho que está aprendendo a voar. Portanto o ideal é que tenhamos um equilíbrio entre ter segurança ao entregar seu bem mais precioso em uma creche e também ter paciência de acompanhar o aprendizado do vôo! Temos plena convicção de quea e inserção,deste ano,começou ali! Pois famílias conscientes das minúcias do processo que as espera, tem incomparavelmente mais condições e entendimento para colaborar positivamente para o sucesso desse processo.

Assim, chegou o tão esperado primeiro dia de aula! Professoras ansiosas para ver o rostinho daqueles que nos acompanharão por mais de 200 dias nesse ano, algumas crianças eufóricas com os espaços e brinquedos (estruturados ou não) que encontraram outras crianças agarradinhas no colo, umas famílias querendo conhecer e entender o espaço preparado para seus filhos, outras famílias assustadas, com o barulho e quantidade de crianças e quantas outras sensações não conseguimos observar neste primeiro encontro. Que misto de expectativas e emoções estávamos vivendo ali! Crianças, famílias e Professoras compartilhando o mesmo espaço e se constituindo como grupo. Que momento importante! O primeiro contato!

Dedicamos-nos a cantarolar, brincar, dar colo, e a fazer o que estivesse ao nosso alcance para que aquelas crianças percebessem e sentissem que estávamos envolvidas com elas e quisessem se envolver conosco também, para que elas se sentissem a vontade naquele espaço pensado e preparado para elas.Nosso planejamento,nessa primeira, semana era estar com as crianças, tentar nos aproximarmos delas e permitir que elas se aproximassem de nós, iniciando, assim, a interação entre adultos e crianças. Concordamos com Ostetto, quando afirma que “não adianta ter um planejamento ‘bem planejado’ se o educador não constrói uma relação de respeito e afetividade com as crianças” (2012, p.190).

Dessa forma, traçamos como objetivo tentar permanecer juntos por cerca de duas horas no primeiro dia, e que esse pouco tempo fosse de muita qualidade, brincando do que despertasse interesse e fosse capaz de fomentar entrega, confiança, diversão, e com o passar dos dias ir aumentando gradativamente esse tempo. Eis que no primeiro dia, após duas horas na sala, algumas das crianças não queriam ir embora. Que surpresa linda de viver! “Só mais um pouquinho, mamãe” (Pietro, 2 anos), “Embora não, tá?” (Lorran, 2 anos).





Assim, várias crianças acabaram ficando inclusive para o almoço, já no primeiro dia de aula. Esse almoço nem estava planejado, mas foi tão bem vindo! As crianças foram alimentadas, e também a nossa convicção de que a parceria das famílias é fundamental para a entrega das crianças ao ambiente escolar. Sentimos que as famílias entenderam nossa proposta desde a primeira reunião, e o resultado estava ali. As famílias foram e são bem vindas, pois é na figura familiar associada ao ambiente escolar que a criança desenvolve segurança necessária para frequentar a escola enquanto um outro espaço de convivência. Se a criança percebe entrega, segurança e confiança nos pais em relação àquele ambiente, mais facilmente se entregarão e confiarão também. 


Os dias seguintes foram seguindo o mesmo fluxo, e sempre contando com simples, contudo, imprescindíveis estratégias pedagó-gicas, como por exemplo a bolinha de sabão, grandes caixas plásticas (que para as crianças se transformam em carrinhos), cabanas, hidrocor pendurados na lousa para livre acesso das crianças, papeis grandes colados nas paredes para desenho livre, ambiente aconchegante para descanso com abajur para garantir uma luminosidade na hora da soneca, pelúcias penduradas no teto com comprimentos diversos, tanto para que as crianças alcancem sozinhas ou para que alcancem quando estão sendo acalentadas no colinho e vários outros itens pensados para potencializar o espaço, que para nós é compreendido como um outro educador, já que “os equipamentos e a disposição do mobiliário podem favorecer ou dificultar a autonomia das crianças, suas interações com objetos e com os amigos, entre outros aspectos.” (Silva e Wolf, 2017, p. 63)


















    A maioria dos itens utilizados nas brincadeiras são materiais muito simples, mas que fazem muita diferença. Afinal, o processo já é complexo por si só. Ele não precisa que nossas atitudes gerem ainda mais complexidade. Nossa preocupação principal está na qualidade dessas brincadeiras, dessas interações e mediações. Novamente é a pesquisadora Daniela Guimarães que nos ajuda a pensar tal processo  afirmando que “junto do olhar, o contato físico buscado pela criança é mais uma forma de fazer-se presente e buscar a relação (...). Trata-se de uma experiência de confirmação e acolhida, alimento para diálogos mediados pelo corpo e para explorações posteriores” (2011,p. 182-183). E isso nos faz ratificar nossa crença que o que nossas crianças esperam de nós é a entrega, nosso olho no olho, nosso colinho, nossa disponibilidade para brincar juntos e não apenas oferecer brinquedos.


Em breve, falaremos um pouco sobre como o espaço da sala de atividades - que é um espaço para brincar, descobrir, trocar, compartilhar, se alimentar e até repousar - foi pensado e organizado para a acolhida de nossas crianças. Abordaremos também a introdução dos elementos não-estruturados nesse momento de inserção escolar.









Referências Bibliográficas:

Falcão, Adriana. A gaiola. São Paulo: Moderna, 2013

Guimarães, Daniela. Relações entre bebês e adultos na creche: O cuidado como ética. São                Paulo: Cortez, 2011.

Ostetto, Luciana Esmeralda. Encontros e Encantamentos na Educação Infantil. Papirus,                    2012. 

Silva, Leda Marina Santos da e Wolf, Célia Claudia. A criança como centro da ação gestora:               desafios na Educação Infantil. In: Ostetto, Luciana Esmeralda. Registros na Educação                         Infantil: Pesquisa e Práticas Pedagógicas. São Paulo: Papirus, 2017.