A chegada das crianças de dois anos
Professora Natalia
Ribeiro
Na UMEI
Rosalda Paim, faz algum que tempo desistimos de chamar de adaptação o momento
tão importante e delicado que é a chegada da criança na escola. Entendemos que
adaptação nos remete a ideia de que o indivíduo deve se adaptar, se ajustar
para caber em algo, e esse não é nem de longe o nosso objetivo, já que visamos
a acolhida como ponto de partida para estabelecermos uma relação. Por acolhida entendemos
receber a pessoa como ela é, respeitando a individualidade de cada uma e
respeitando também a ideia de que os processos não se dão no mesmo tempo e nem da
mesma forma para todas, já que cada indivíduo tem sua essência e sua forma de encarar
as novidades e as mudanças, que são tantas nessa fase inicial de chegada a uma
escola. Entendemos ainda que a acolhida se faz necessária não só em relação às
nossas crianças, mas também em relação às famílias dessas crianças, que tem
tanta importância nesse processo que preferimos que seja chamado de inserção
escolar.
O processo de
inserção começa na família. De acordo
com a pesquisadora Daniela Guimarães, “compreender
o valor das famílias e suas peculiaridades na vida das crianças é muito
importante”(2011, p. 144). Sendo assim, foi na reunião de pais, realizada
antes mesmo das crianças chegarem à escola, que iniciamos o planejamento da
inserção dos nossos pequeninos Depois participar da primeira parte da reunião
com a Direção da Escola, os pais de alunos do GREI2 permaneceram no espaço com
as professoras desses grupos e uma das Pedagogas da UMEI. Assim tivemos a
oportunidade de começar a conhecer essas famílias e conversar sobre as
particularidades do processo de Inserção Escolar.
Nossa
estratégia foi envolvê-los com afeto e dividir a rotina que seus filhos
passariam a vivenciar no espaço da UMEI. Para isso, lemos a história A Gaiola
(de Adriana Falcão) Acreditamos que essa troca de informações tenha sido de
grande valia, pois deixamos claro que a nossa intenção é apenas somar e ampliar as experiências socioafetivas das
crianças. As gaiolas não são necessárias quando existe amor de verdade, bem
como não é recomendado soltar tão rápido o passarinho que está aprendendo a
voar. Portanto o ideal é que tenhamos um equilíbrio entre ter segurança ao
entregar seu bem mais precioso em uma creche e também ter paciência de
acompanhar o aprendizado do vôo! Temos plena convicção de quea e inserção,deste
ano,começou ali! Pois famílias conscientes das minúcias do processo que as
espera, tem incomparavelmente mais condições e entendimento para colaborar
positivamente para o sucesso desse processo.
Assim, chegou
o tão esperado primeiro dia de aula! Professoras ansiosas para ver o rostinho
daqueles que nos acompanharão por mais de 200 dias nesse ano, algumas crianças
eufóricas com os espaços e brinquedos (estruturados ou não) que encontraram
outras crianças agarradinhas no colo, umas famílias querendo conhecer e
entender o espaço preparado para seus filhos, outras famílias assustadas, com o
barulho e quantidade de crianças e quantas outras sensações não conseguimos
observar neste primeiro encontro. Que misto de expectativas e emoções estávamos
vivendo ali! Crianças, famílias e Professoras compartilhando o mesmo espaço e
se constituindo como grupo. Que momento importante! O primeiro contato!
Dedicamos-nos
a cantarolar, brincar, dar colo, e a fazer o que estivesse ao nosso alcance
para que aquelas crianças percebessem e sentissem que estávamos envolvidas com
elas e quisessem se envolver conosco também, para que elas se sentissem a
vontade naquele espaço pensado e preparado para elas.Nosso planejamento,nessa
primeira, semana era estar com as crianças, tentar nos aproximarmos delas e
permitir que elas se aproximassem de nós, iniciando, assim, a interação
entre adultos e crianças. Concordamos com Ostetto, quando afirma que “não adianta ter um planejamento ‘bem
planejado’ se o educador não constrói uma relação de respeito e afetividade com
as crianças” (2012, p.190).
Dessa forma,
traçamos como objetivo tentar permanecer juntos por cerca de duas horas no
primeiro dia, e que esse pouco tempo fosse de muita qualidade, brincando do que
despertasse interesse e fosse capaz de fomentar entrega, confiança, diversão, e
com o passar dos dias ir aumentando gradativamente esse tempo. Eis que no primeiro
dia, após duas horas na sala, algumas das crianças não queriam ir embora. Que
surpresa linda de viver! “Só mais um
pouquinho, mamãe” (Pietro, 2 anos), “Embora
não, tá?” (Lorran, 2 anos).
Assim, várias crianças acabaram ficando inclusive para o almoço, já no primeiro dia de aula. Esse almoço nem estava planejado, mas foi tão bem vindo! As crianças foram alimentadas, e também a nossa convicção de que a parceria das famílias é fundamental para a entrega das crianças ao ambiente escolar. Sentimos que as famílias entenderam nossa proposta desde a primeira reunião, e o resultado estava ali. As famílias foram e são bem vindas, pois é na figura familiar associada ao ambiente escolar que a criança desenvolve segurança necessária para frequentar a escola enquanto um outro espaço de convivência. Se a criança percebe entrega, segurança e confiança nos pais em relação àquele ambiente, mais facilmente se entregarão e confiarão também.
Assim, várias crianças acabaram ficando inclusive para o almoço, já no primeiro dia de aula. Esse almoço nem estava planejado, mas foi tão bem vindo! As crianças foram alimentadas, e também a nossa convicção de que a parceria das famílias é fundamental para a entrega das crianças ao ambiente escolar. Sentimos que as famílias entenderam nossa proposta desde a primeira reunião, e o resultado estava ali. As famílias foram e são bem vindas, pois é na figura familiar associada ao ambiente escolar que a criança desenvolve segurança necessária para frequentar a escola enquanto um outro espaço de convivência. Se a criança percebe entrega, segurança e confiança nos pais em relação àquele ambiente, mais facilmente se entregarão e confiarão também.
Os dias seguintes foram seguindo o mesmo fluxo, e sempre contando com simples, contudo, imprescindíveis estratégias pedagó-gicas, como por exemplo a bolinha de sabão, grandes caixas plásticas (que para as crianças se transformam em carrinhos), cabanas, hidrocor pendurados na lousa para livre acesso das crianças, papeis grandes colados nas paredes para desenho livre, ambiente aconchegante para descanso com abajur para garantir uma luminosidade na hora da soneca, pelúcias penduradas no teto com comprimentos diversos, tanto para que as crianças alcancem sozinhas ou para que alcancem quando estão sendo acalentadas no colinho e vários outros itens pensados para potencializar o espaço, que para nós é compreendido como um outro educador, já que “os equipamentos e a disposição do mobiliário podem favorecer ou dificultar a autonomia das crianças, suas interações com objetos e com os amigos, entre outros aspectos.” (Silva e Wolf, 2017, p. 63)
A maioria dos itens utilizados nas brincadeiras são materiais muito simples, mas que fazem muita diferença. Afinal, o processo já é complexo por si só. Ele não precisa que nossas atitudes gerem ainda mais complexidade. Nossa preocupação principal está na qualidade dessas brincadeiras, dessas interações e mediações. Novamente é a pesquisadora Daniela Guimarães que nos ajuda a pensar tal processo afirmando que “junto do olhar, o contato físico buscado pela criança é mais uma forma de fazer-se presente e buscar a relação (...). Trata-se de uma experiência de confirmação e acolhida, alimento para diálogos mediados pelo corpo e para explorações posteriores” (2011,p. 182-183). E isso nos faz ratificar nossa crença que o que nossas crianças esperam de nós é a entrega, nosso olho no olho, nosso colinho, nossa disponibilidade para brincar juntos e não apenas oferecer brinquedos.
Em breve,
falaremos um pouco sobre como o espaço da sala de atividades - que é um espaço para brincar, descobrir, trocar, compartilhar,
se alimentar e até repousar - foi pensado e organizado para a acolhida
de nossas crianças. Abordaremos também a introdução dos elementos não-estruturados
nesse momento de inserção escolar.
Referências
Bibliográficas:
Falcão,
Adriana. A gaiola. São Paulo: Moderna, 2013
Guimarães,
Daniela. Relações entre bebês e adultos na creche: O cuidado como ética.
São Paulo: Cortez, 2011.
Ostetto,
Luciana Esmeralda. Encontros e Encantamentos na Educação Infantil. Papirus, 2012.
Silva, Leda
Marina Santos da e Wolf, Célia Claudia. A criança como centro da ação
gestora: desafios na Educação Infantil.
In: Ostetto, Luciana Esmeralda. Registros na Educação Infantil: Pesquisa e
Práticas Pedagógicas. São Paulo: Papirus, 2017.